A cegueira por desatenção e como enxergamos menos do que pensamos
Este é o primeiro artigo de uma série de publicações envolvendo os processos psicológicos básicos: Atenção, Percepção e Memória.
Iniciemos nossa jornada em O Nosso mundo como não é! com um pouco sobre a cegueira por desatenção
Mas antes de falar da cegueira por desatenção, primeiro temos que definir o que é Atenção.
A atenção pode ser definida como o processo de selecionar coisas em que se concentrar, num certo momento, dentre a variedade de possibilidades disponíveis, ou seja, se trata do fenômeno pelo qual processamos ativamente uma quantidade limitada de informações dentro do enorme montante de informações disponíveis ao nosso redor por meio de nossos sentidos, de nossas memórias armazenadas e de outros processos cognitivos. Dessa forma, o fenômeno psicológico da atenção possibilita-nos o uso criterioso de nossos limitados recursos mentais[1].
Basicamente a atenção é a capacidade que temos de focar naquilo que é importante, podendo ser direcionada e/ou focalizada. A atenção está ligada não só a processos externos como quando olhamos para os lados ao atravessar a rua, ou percebemos que um ônibus que se aproxima é, na verdade, àquele que desejamos pegar, como também à tarefas mentais, como estudar, ou se focar num determinado pensamento.
A atenção filtra os estímulos de acordo com sua relevância e regula o nível de consciência alocado nos diferentes estímulos. Isso graças à sua capacidade seletiva e gerenciadora. Contudo, uma característica inerente à atenção focalizada é sua capacidade limitada e, diferente do que muitos acham, não pode ser facilmente dividida. Isto significa que poucos estímulos, dos inúmeros que chegam aos nossos sentidos, podem ser selecionados para serem processados conscientemente por nossa mente. Este fenômeno atencional é identificado como cegueira por desatenção (inattentional blindness): quanto mais o foco da atenção está centrado no estímulo selecionado, maior será a possibilidade de percebê-lo, processá-lo e lembrá-lo conscientemente em contrapartida, menor será a probabilidade de perceber e lembrar os outros estímulos que o cercam.
Algo sempre presente ao se falar sobre o cérebro é como esse órgão fantástico, faz tanto com tão pouco - estima-se que nosso cérebro gaste a energia de uma pilha pra realizar uma tarefa que um computador realizaria gastando a energia de uma usina inteira. Por isso o cérebro sempre tenta economizar energia e encontrar atalhos, um desses muitos atalhos acaba gerando a cegueira por desatenção pois, ao só reparar naquilo que parece ter alguma importância pra gente, muita informação considerada inútil é imediatamente descartada, não sendo sequer percebida.
Isto é basicamente o que acontece no vídeo abaixo, sendo mais comum do que parece. Sabendo que o cérebro das pessoas funciona de forma similar, esse fenômeno nos ajuda a explicar, por exemplo, o número de acidentes de trânsito causados pelo o uso de aparelho celular, pois ao estar focado no aparelho, o motorista pode não ver um pedestre atravessando a rua, ou um carro que parou na sua frente, mesmo estes estando no seu campo de visão; ou até mesmo quando alguém fala conosco e estamos tão “concentrados” que não percebemos.
A cegueira por desatenção também pode vir à tona durante um tratamento, pois o sujeito pode não perceber pensamentos ou ações desadaptativas mesmo as realizando no dia à dia, por exemplo uma pessoa pode magoar outra com suas atitudes mesmo sem perceber; ou alguém de dieta que não percebe a quantidade excessiva de chocolates que ingere, pondo em risco sua saúde.
O importante é saber que em certas situações precisamos redobrar os esforços para tentar perceber o que realmente está ao nosso redor.
Não está convencido sobre tudo que falei? Assista o vídeo abaixo [2] e veja com seus próprios olhos.
Fonte:
[1] DE JOU, Graciela Inchausti. Atenção seletiva: Um estudo sobre cegueira por desatenção. 2006.
Truques da mente - 1ª Temporada Episódio 1(Dublado) - Cegueira Inatencional